terça-feira, 29 de setembro de 2009

Trabalhar duro é supervalorizado


Vi o post com esse texto primeiro no Update or Die e decidi postar uma tradução completa dele no Recheados. É da Caterina Fake, fundadora do Flickr e do Hunch, sobre como "evitar a fadiga", basicamente. Muitas vezes, no mundo da propaganda, varam-se noites sem necessidade, apenas pela sensação de estar dando o melhor de si. Nem sempre isso dá certo e pode ser até prejudicial.

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Trabalhar duro é supervalorizado

Caterina Fake




Eu tenho visto um monte de empreendedores esforçados falharem, e cheguei à conclusão que, trabalhar duro não é de todo ruim, mas não é a mágica que leva às grandes invenções ou guinadas de sucesso.

Thomas Edison, que disse a célebre frase que “Um gênio é 1% inspiração e 99% transpiração”, testou centenas de materiais procurando por aquele que seria perfeito para o filamento da lâmpada elétrica. Foi um trabalho duro, e de fato persistir a várias decepções é a chave para fazer alguma coisa dar certo, mas ele estava trabalhando no problema certo. Frequentemente as pessoas trabalham duro nas coisas erradas. Trabalhar na coisa certa é provavelmente mais importante que trabalhar duro.

Quando estávamos contruindo o Flickr, nós trabalhamos duro. Trabalhamos durante todas as horas em que estávamos acordados, sem parar. Meu sócio no Hunch, Chris Dixon, e eu estávamos conversando sobre o quão duro nós trabalhamos nos nossos inícios - sendo o dele o Site Advisor, comprado pela McAfee – cerca de 14 a 18 horas por dia. Concordamos que muito do que chamávamos de trabalhar duro na verdade eram surtos de ansiedade. Surtar inclui entrar em pânico, trabalhar em coisas só para estar trabalhando em algo, não saber o que se está fazendo, temer o fracasso, se preocupar sobre coisas que não precisamos nos preocupar, pensar mais em arrecadar fundos do que em construir o produto, construir muitos detalhes fúteis, se distrair pela competição, pensar que ficar no escritório só por estar é produtivo, quando na verdade não é – e outras atividades que consomem todo o nosso tempo.

Nos últimos tempos nós conseguirmos eliminar um bocado do tempo de surtos. Parece que estamos trabalhando mais leve, e até chegamos em casa para o jantar.

Watson e Crick, que descobriram a estrutura do DNA, são descritos no livro Smart World (não descobri o nome em português), de Richard Ogle:

Algumas vezes os protagonistas centrais se comportavam como pessoas cujo trabalho era montar sketchs para Monty Python... eles tinham um hábito de trabalho distintamente sem vigor. Watson jogava muitos sets de tênis toda tarde e gastava suas noites indo atrás de garotas em festas de Cambridge ou indo ao cinema. Crick, que raramente aparecia no laboratório antes das 10 da manhã e tirava uma pausa para o café uma hora depois, repetidamente parecia ter perdido o interesse no problema do DNA. Em mais de uma ocasião, peças vitais de informação eram obtidas não pelo trabalho duro, mas como resultado de conversas despretensiosas durante o chá no laboratório.

Muito mais importante que trabalhar duro, é saber como encontrar a coisa certa na qual trabalhar. Prestar atenção em o que está acontecendo no mundo. Ver padrões. Ver coisas como elas são mais do que como você quer que elas sejam. Ser capaz de ler o que as pessoas querem. Se colocar no lugar certo onde a informação está correndo livremente e justaposições interessantes podem ser observadas. Você pode poupar muito do seu tempo trabalhando na coisa certa. Trabalhando duro também, se é isso que você gosta de fazer.

Caterina Fake é co-fundadora do Hunch, um site que ajuda você a tomar decisões. Ela foi co-fundadora do Flickr, que foi comprado pelo Yahoo em 2005.

Post original em inglês:

7 comentários:

  1. A verdade é q publicitário não é muito esperto... tem orgulho de trabalhar mais que o necessário e pelo que não está sendo pago... e pior, não tem vergonha de contar isso pros outros !!

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  2. Uma coisa é trabalhar mais por algo que você não vê resultado, ou que sabe que o resultado não muda nada.

    Eu não trabalharia mais para terminar um job, pq para mim, propaganda é inútil, por mais prêmios que renda ou por mais criativa que seja.

    "Se propaganda fosse algo legal, ela não precisaria ficar interrompendo os programas..."

    Agora trabalhar em projetos como um flickr que mudou o conceito de galerias, na internet. Nossa, trabalharia 24 horas feliz.

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  3. Na verdade nunca entendi porque nos cobram maior produtividade se somos remunerados pelo tempo de trabalho, não pelo desempenho. Simplesmente acho isso sem sentido.

    Sem sentido como o bel prazer que tenho em virar uma noite, trabalhar um fim de semana, enfim, suar a camisa para "fazer a coisa acontecer". Não importa a que preço, mas ver um "filho" meu sendo veiculado e atingindo seu objetivo e com isso deixar o anunciante mais satisfeito é sim minha satisfação. Quando me perguntam se estou sendo racional ao agir assim, respondo: Não. O anunciante enriquece, a agência também. Eu continuo (e provavelmente continuarei) pobre. Mas como ser publicitário das 8h às 18h se seu cérebro não bete ponto? Das "conversas despretenciosas durante o chá" ao bate papo na balada, tudo se resume na troca de experiência e no ganho com os relacionamentos. Elementos fundamentais para alimentar a criação, planejamento, mídia, produção... se você é publicitário, pode até não acreditar, mas também trabalha sem parar.

    Sem sentido também é a afirmação do comentário anterior. A propaganda pode não ser a criação mais nobre do homem, mas tá longe de ser inútil. Ela elege candidatos, dita costumes, influencia decisões e, com isso, se torna a mola propulsora do capitalismo. Se isto é positivo ou não, já é tema para outra discussão porque, baseado no comentário acima, esta já perdeu o sentido.

    BRUNO GODINHO
    Publicitário
    www.ultimotrocadilho.blogspot.com
    www.twitter.com/tibrao
    brunoagodinho@gmail.com

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Concordo com sua visão Bruno, eu só acredito que a propaganda nos moldes atuais, não constrói nada e que podemos aumentar as vendas de nossos clientes sem tomar tempo dos consumidores, ou poluir os espaços com várias mensagens.
    Pode parecer utópico, mas pelo menos é algo que acredito, vale a pena trabalhar e ser workaholic e assim voltamos ao tema. ;)
    Boa opinião.

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  6. Penso que se nos organizarmos para conseguir fazer o trabalho das 8h às 18h, podemos usar o resto do tempo para recarregar nosso repertório cultural, descansar a mente, e quem sabe até termos ideias inesperadas. Mas trabalhar até tarde deveria ser exceção.

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